sábado, 23 de janeiro de 2010

As Corridas Loucas de S. Paulo



Chama-se Saulo (nome fictício) e estuda Direito em Coimbra. Acaba de

completar 22 anos.


Inteligente, honesto e trabalhador, é muito empenhado no que faz. Sendo responsável distrital da Juventude do seu Partido, tornou-se mestre no uso da palavra e, sobretudo, naqueles jogos chamados “debates públicos”, nos quais domina a arte – não apenas de defender a sua posição, mas também de “destroçar” politicamente qualquer opositor que o enfrente. Acredita no que faz, e fá-lo bem. E acha sinceramente que os fins justificam os meios, nem que isso signifique “humilhar” ao máximo alguém que, por simplicidade ou falta de argumentos, tenha opinião diferente da sua.


Quando ia de carro na IP5, para um debate “destrutivo e final” em véspera de eleições para uma Associação de Estudantes, teve um acidente. Não sabe como: ao dar uma curva ficou encadeado com uma luz forte e despistou-se. O acidente não foi grave, foi aparatoso. Foi grande o susto …e muita chapa estragada. Nas Urgências do Hospital (medida de precaução – não houve ferimentos aparentes), Saulo deu consigo a observar quem o rodeava.


Feridos reais. Casos desesperados. Vida ou morte.


Teve um telefonema: o seu adversário no debate, vendo que ele não chegava e sabendo de um acidente aparatoso no seu percurso, ligou-lhe para o telemóvel para se informar do seu bem-estar.


Quando saiu pelo seu pé do Hospital, agora com os olhos abertos para a vida que podia ter perdido, Saulo trazia um firme propósito: não ferir ou magoar mais ninguém, política ou pessoalmente, como vinha a fazer intencionalmente, apenas para se afirmar como pessoa. E fez questão de ter uma reunião no Partido, para informar os que com ele seguiam o mesmo sistema, da sua mudança de atitude “interior” e exterior, de agora em diante.


Paula* (nome fictício) é licenciada e dá aulas. Fez um doutoramento e tudo indica uma carreira promissora de investigadora científica. Tem 25 anos, foi “escuteira toda a vida” e cumpriu os objectivos que tinha traçado para si própria, enquanto foi caminheira na cidade onde estudou.


Quando comunicou aos seus pais e amigos que ia dar mais um passo de mudança na sua vida, ninguém imaginou que tinha decidido entrar numa ordem religiosa para ser freira, mais precisamente missionária.


«- Decidi deixar de olhar só para mim e para a minha “vidinha”. Estava a crescer a olhar apenas para o meu umbigo!...E de repente descobri que há coisas mais importantes que os livros e uma tese: há pessoas! …»


Com sorte iria para fora, talvez para um país do chamado “3º mundo”, talvez dar aulas ou, quem sabe, fazer outros trabalhos que nem a sua forte imaginação consegue ainda conceber.

Vai deixar tudo… para Servir!


Disse tudo isto com aquele sorriso tranquilo, que a caracteriza.


Paulo* (nome fictício) é caminheiro, tem 22 anos. Não queria sair aindado conforto do Clã – ser CIL não lhe dizia nada.


Criticou o seu chefe de clã, e “fez a vida negra” a toda a equipa de animação do agrupamento, quando estes lhe propuseram avançar mais uma etapa e apoiar uma Secção. Pensou inclusive em deixar o agrupamento, ameaçou mesmo “sair de escuteiro”. Por isso, quando ele telefonou a comunicar que ia fazer a Actividade deste Natal com os Lobitos, notei a mudança:


alguma ansiedade (era a primeira vez que ia assumir um dos Bandos), mas – sobretudo – muita expectativa, perante a aventura que o esperava, o jogos que tinha ajudado a preparar… e sim, a alegria de ter convencido mais dois elementos do Clã a ajudar na animação da Actividade.



O que há de comum nestas três histórias?


- mudança interior;

- “coragem” de alguém deixar um caminho

que vem fazendo e saltar com os dois pés para outro caminho, que segue numa outra direcção;

- de como cada um, sem deixar de ser quem é e sem perder “uma pinta” da sua personalidade, se tornou uma Nova Pessoa.


E todas estas histórias tocam aspectos comuns a uma história que, há uns anos atrás, viveu um certo Saulo (mais tarde Paulo), de Tarso, que envolveu uma Luz e uma queda de cavalo que o deixou temporariamente “cego”. Também ele era jovem, também estudava, era inteligente, tinha também os seus valores que defendia de forma feroz e eficaz.

Com certeza também sonhou e fez planos sobre a vida que estava a viver.



....Capacidade de PARAR e RECOMEÇAR...


...analisar o seu caminho, assumir uma mudança interior e avançar...


quando a verdade se torna evidente aos nossos olhos, e caiem

as “escamas” que nos impedem ver mais longe, tornamo-nos humildes perante a

evidência e, simplesmente, avançamos.


As nossa «escamas»


Poderão ser hoje todas

aquelas falsas seguranças que vamos criando - a imagem que cada um cria de si próprio, os falsos conceitos de valores ou até mesmo um certo orgulho dissimulado.


Não nos cega? Pode ser…mas sem dúvida que distorce a realidade.


Paulo de Tarso não se limitou a observar a mudança: fez dela uma ferramenta para mostrar a outros que não há IMpossíveis, para informar toda a gente que uma pessoa pode mudar, evoluir, que seguindo o exemplo de alguém que Ama, que se Compromete, que Cria e Desenvolve relações, que procura Fazer um mundo melhor, nada mais faz que seguir o exemplo de Cristo, afinal...”o” Homem Novo por excelência!


É importante não apenas o que se vive, mas também o que daí se PARTILHA. A experiência partilhada de um Jogo vivido numa actividade pode ajudar a compreender o que está certo ou errado nos jogos que nós próprios propomos. Até as dúvidas ou incertezas, ou as coisas mais tristes ou confusas podem tornar-se importantes, quando partilhadas… porque vida partilhada gera Vida, mesmo quando o que se partilha parece pouco e sem graça.



Quando se escreve uma Carta, estamos a dar um passo num conceito de Fraternidade que hoje já não sabemos entender muito bem. O que há para compreender? A tentativa de chegar ao outro, de dar de forma humilde, de ensinar com a experiência, de SE dar e de se mostrar disponível a receber… caso o “outro” esteja disponível para responder, o que nem sempre acontece, mesmo entre escuteiros…

Terá S.Paulo tido quem lhe tenha respondido às cartas? Se sim, onde estão

elas? Se não, porque não deixou de as escrever?...



…talvez TU saibas dar a resposta!! Afinal, não há tantas coisas que tu

continuas a tentar… apenas porque acreditas nelas?...porque achas que ainda podes apostar?...porque apesar dos “apesares”, sabes que vale a pena??

…pois!, hoje a minha aposta era mostrar que S.Paulo poderia ter vivido nos

nossos dias. Igual a outros tantos Paulos por aí. Se calhar, por ser feito da mesma “massa” de cada um de nós… daí que, se calhar, ser “santo” não esteja assim tão fora do alcance de cada um…




Paulo Valdez